Reprodução: Fertilidade preservada para paciente com câncer

Publicado 12 de setembro de 2010 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 01:14.

Janaína, de um ano e quatro meses, é filha da intuição. Há 15 anos, ao descobrir que tinha um câncer linfático, o arquiteto Caio Faggin foi alertado por uma colega de faculdade sobre o risco de ficar estéril por causa do tratamento quimioterápico. Na época com 18 anos e decidido a ser pai no futuro, ele procurou uma clínica para congelar seu sêmen.
Hoje, aos 33, curte os primeiros passos da filha ao lado da moça que o incentivou a preservar a fertilidade: ela se tornou sua mulher e é mãe da menina cujo nascimento ajudou a garantir no passado. Nós nem éramos amigos. Mas quando ela soube que eu iria passar pelo tratamento, pediu para que me avisassem, lembra.
O congelamento de sêmen é uma prática viável economicamente. O paciente gasta cerca de R$ 500 por ano para manter o sêmen congelado, explica o diretor clínico do Projeto Alfa de reprodução assistida, Jonathas Borges Soares.
O segundo passo, no caso de Faggin, foi partir para a inseminação intrauterina. Tem uma pontinha de sensação de ser desnecessário no processo. Quando fomos fazer a implantação do embrião, eu sabia que estava lá porque queria. Mas precisar, mesmo, não precisava.
Casos como o do arquiteto são comuns: metade das pessoas que passam por tratamentos contra o câncer fica infértil, garantem os especialistas. E é incomum o oncologista avisar essa situação ao paciente, explica o urologista e ginecologista da Universidade Federal de São Paulo Edson Borges Júnior, que é diretor do centro de reprodução assistida Fertility .
A instituição tem uma pesquisa na qual o câncer surge como o principal motivo que leva um homem a buscar o recurso. O tumor é um tecido que se divide rapidamente. Os tratamentos de quimioterapia atingem essas células, que têm o mesmo comportamento das células reprodutoras, diz Borges.
Para as mulheres, o congelamento de células reprodutivas exige mais planejamento. Algumas não têm tempo de passar pela estimulação do ovário e congelar os óvulos, o que demora cerca de um mês. Assim, optam pelo congelamento de uma parte do ovário, que depois é reimplantada, diz o diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, Arnaldo Cambiaghi.
A psicóloga Gabriela Teixeira, de 28 anos, ainda não sabe se os óvulos que congelou antes do tratamento oncológico serão necessários. Só saberei quando estiver tentando engravidar, conta. Diagnosticada com um linfoma em 2008, ela informou ao oncologista que desejava ter quatro filhos. Foi ele quem me informou dos riscos. A chance de sobrevivência dos óvulos varia entre 70% e 80% .

Perfil

Uma pesquisa do Centro de Reprodução Assistida Fertility , feita com 98 homens, mostra qual é o perfil dos pacientes que escolhem congelar o sêmen para preservar o potencial reprodutivo. A idade média deles é 33 anos e o tratamento contra o câncer é o principal motivo que os leva ao procedimento.
– Laís Catassini

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