Após cirurgia bariátrica, homens podem ter infertilidade secundária

Publicado 23 de setembro de 2015 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 00:51.

Quase ninguém imagina que homens e mulheres já com filhos podem ser acometidos de infertilidade secundária. Ou seja, por algum motivo, já não conseguem mais engravidar naturalmente depois do primeiro filho. Trata-se, inclusive, de uma condição que costuma retardar bastante a busca por ajuda especializada, já que a pessoa acredita veementemente que não tem problema algum. Nos homens, a infertilidade secundária tem aumentado em decorrência do tratamento da obesidade. Alguns que se submeteram ao by-pass gástrico, embora tenham alcançado o objetivo principal de perder bastante peso, passaram por problemas de curto e longo prazo no sistema reprodutivo masculino.
Trata-se de uma situação relativamente nova e que preocupa os especialistas em Medicina Reprodutiva. No ano passado, foram realizadas 88 mil cirurgias bariátricas no Brasil, sendo que em 75% dos casos o método empregado foi o by-pass gástrico. Dados do IBGE revelam que mais da metade da população brasileira acima dos 20 anos tem sobrepeso, cerca de 65 milhões de pessoas. Já os obesos somam mais de 10 milhões. Diante desse cenário, é possível prever que o número de cirurgias bariátricas tende a aumentar neste e nos próximos anos – aumentando também a ocorrência de infertilidade secundária masculina.
“É de entendimento comum que pacientes que passam por by-pass gástrico perdem mais peso do que pacientes com banda gástrica, e nós acreditamos que isso acontece por causa das alterações no estômago, que de alguma forma levam a pessoa a não desejar mais comer por prazer”, explicou Tony Goldstone, pesquisador britânico do Imperial College (Londres) em entrevista ao Bariatric Times. Mas foi um outro grupo de Oxford* que publicou estudo comprovando que, como essa cirurgia reduz drasticamente a absorção de nutrientes, acaba afetando todo o corpo com o passar do tempo. Embora as terapias nutricionais e os medicamentos possam ajudar a aliviar algumas das dificuldades de curto prazo, os efeitos sobre o sistema reprodutivo masculino persistem após a operação.
De acordo com Edson Borges Junior, especialista brasileiro em Medicina Reprodutiva e diretor científico do Fertility Medical Group, a obesidade por si só já tem um impacto bastante negativo na fertilidade masculina, comprometendo a qualidade do espermatozoide e o potencial reprodutivo dos homens. De alguma forma, vem inclusive contribuindo para a queda de fertilidade masculina observada no mundo todo nos últimos 50 anos. “Se a obesidade se apresenta como um fator negativo para a fertilidade masculina, os efeitos da cirurgia bariátrica – principalmente o by-pass gástrico – têm sido cada vez mais observados”.
Borges participou, inclusive, de um estudo internacional publicado numa das mais prestigiadas revistas na área de Medicina Reprodutiva, a Human Reproduction Update. Intitulado “Relação entre IMC e contagem de espermatozoide”, o estudo apresentou uma meta-análise de 21 outros estudos já realizados sobre o tema, envolvendo dados de mais de treze mil homens. “O estudo chegou à conclusão de que o sobrepeso e a obesidade estão associados a muitos casos de oligozoospermia, que significa baixa contagem de espermatozoides, e de azoospermia, que é a inexistência de espermatozoides no sêmen. Fazendo uma comparação com homens com IMC dentro da normalidade (20,7 a 26,4), a incidência desses problemas é 11% maior em quem tem sobrepeso, 28% maior em obesos e 100% maior em obesos mórbidos. Por isso é tão importante controlar o peso para melhorar os parâmetros seminais. Vale ressaltar que homens abaixo do peso ideal também apresentam 15% mais problemas relacionados à oligozoospermia e à azoospermia”.
Na opinião do especialista, a primeira medida que tanto homens quanto mulheres devem tomar é adotar uma dieta balanceada e saudável, controlando o peso – responsável por outras tantas doenças que acabam impactando a fertilidade, como o diabetes e a pressão alta. Mas, diante de um quadro de obesidade em que seja indicada a cirurgia bariátrica, é importante o paciente ser informado sobre possíveis desdobramentos em relação à infertilidade secundária – ainda que já tenha tido um ou mais filhos.
“Caso o paciente tenha planos de ter mais filhos no futuro, cabe a um especialista em Fertilização Assistida explicar em detalhes a situação, oferecendo a possibilidade tanto de uma criopreservação de espermatozoides (desde que seus exames se mostrem favoráveis), como de outras técnicas possíveis para tratar a azoospermia. Hoje, quando um paciente não tem espermatozoides no sêmen, utilizamos de algumas técnicas para identificá-los nos testículos e aspirá-los, empregando numa técnica de fertilização in vitro chamada ICSI* (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides) ou ainda na Super-ICSI**”, diz Borges.
http://humrep.oxfordjournals.org/content/20/4/997.full?sid=abbe22e4-7106-445d-9191-5c10940bb906
https://fertility.com.br/tratamentos/icsi-injecao-intracitoplasmatica-de-espermatozoides/
https://fertility.com.br/tratamentos/super-icsi-injecao-de-espermatozoides-morfologicamente-selecionados/
Fonte: Dr. Edson Borges Junior, medico urologista, especialista em Medicina Reprodutiva, sócio-fundador e diretor científico do Fertility Medical Group.

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