Balada aos 20, bebê aos 40

Publicado 31 de outubro de 2011 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 01:10.

Mesmo que você ainda não sonhe com criancinhas correndo pela casa, precisa se cuidar hoje para preservar a fertilidade do futuro – quando pode bater a vontade de ser mãe.
Se você está na faixa dos 20 aos 30 anos, provavelmente sua vida se divide entre ir para a balada, estudar, trabalhar, viajar, namorar e fazer planos de todo tipo – de cursos de culinária a MBA no exterior -, menos um: ter filhos. Pelo menos por enquanto.
A chegada dos bebês tem sido cada vez mais adiada. Essa tendência – que notamos ao nosso redor – é confirmada por estatísticas do IBGE. No registro de nascimentos, a porcentagem de mamães com mais de 30 anos subiu de 23%, em 1999, para 28%, em 2009. Nas classes mais altas, estimo que 70% das gestações sejam de mulheres acima de 35 anos, afirma a ginecologista Rosa Neme, diretora do Centro de Endometriose São Paulo e consultora de WH. O número é similar em clínicas de reprodução assistida, onde quase 70% das pacientes ultrapassam os 35 anos. Antigamente, essa idade era um tabu, mas hoje consideramos os 40 como um limite, diz Rosa.
Mesmo que o salário da babá ou a mensalidade da escolinha não estejam entre suas preocupações atuais, você precisa começar a pensar no assunto se um dia quiser se tornar mãe – ainda que isso seja daqui a dez ou 15 anos. Entre tantas mudanças, uma coisa é exatamente igual ao tempo das vovós: o organismo continua envelhecendo.
Nesse quesito, o tempo joga contra a mulher moderna. O grande problema é que nosso estoque de óvulos está prontinho desde o nascimento. No início da vida, há cerca de 1 milhão de células. Na puberdade, esse depósito diminui para umas 700 mil. Aos 30 anos, restam 10% delas. Mesmo a mais jovial das balzaquianas não conseguirá barrar a natureza. Os óvulos estão mais expostos aos fatores ambientais ligados ao envelhecimento, explica a ginecologista Emanuelli Alvarenga da Silva, do Hospital e Maternidade Beneficência Portuguesa de Santo André (SP).
A possibilidade de engravidar sem uma mãozinha da ciência declina a partir dos 27 anos. A taxa de fertilidade, que é de 25% ao mês na faixa dos 20, cai para 20% aos 30, despencando para 5% aos 40. Os óvulos velhos ainda têm mais defeitos. Daí que aumenta o risco de gerar filhos com doenças como a síndrome de Down. Aos 30 anos, a chance é de uma para mil, aos 35 é de uma para 250 e, aos 40 anos, é de uma para 100. Nessa idade, quase 90% dos óvulos têm algum defeito genético. Outro problema é que acima dos 35 aumenta a ocorrência de doenças como diabetes gestacional, hipertensão e eclampsia, além de males na tireoide, problemas na placenta, sangramentos vaginais e parto prematuro. Nessa faixa etária, cerca de um quinto das gestações acaba em aborto natural.
Essas informações não servem para deixá-la de cabelo em pé se você prefere varar a madrugada dançando até o chão do que ninando um recém-nascido chorão – ou se chegou ao terceiro decanato sem notícias da sua carametade. Afinal, não faltam relatos de mulheres que engravidaram após os 40 e deram à luz bebês saudáveis. Mas, como isso varia, vale se cuidar hoje para minimizar problemas no futuro. A medicina é sua aliada. Com acompanhamento médico é possível controlar ou prevenir as doenças da gravidez. Vale registrar que, se por um lado a natureza está contra a saúde dos óvulos, por outro ter filhos com algumas questões bem resolvidas – carreira, casamento, maturidade emocional – ajuda a enfrentar os desafios da maternidade.
Lá na frente, quando você se sentir pronta para encarar as mamadeiras, não perca tempo. Embora seja considerado normal passar um ano tentando até conseguir engravidar, após os 35 os médicos não recomendam esperar mais de seis meses para procurar ajuda.
Antes de apelar para a ciência, faça a sua parte. Algumas atitudes, embora não garantam óvulos jovens para sempre, previnem o desgaste além do normal. Os ovários, assim como o resto do corpo, dependem de um organismo saudável para funcionar direito. Tudo o que faz mal para o organismo faz mal para os óvulos, diz Edson Borges Jr., especialista em medicina reprodutiva e diretor do Fertility – Centro de Fertilização Assistida , em São Paulo.

Adote um estilo de vida saudável:

Faça uma dieta equilibrada: pratique exercícios moderadamente, garanta boas horas de sono e consuma poucas doses de álcool e cafeína, que afetam a função ovariana. Também é essencial manter o peso adequado – magreza excessiva e quilos extras comprometem a fertilidade.
Largue o cigarro ontem: ele é um dos vilões cientificamente comprovados da fertilidade. Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, 13% dos casos de infertilidade estão ligados ao fumo. O tabaco deteriora os óvulos e aumenta os riscos de aborto, de gravidez ectópica (fora do útero) e de menopausa precoce. Como se isso fosse pouco, as baforadas diminuem em 34% as chances de quem tenta uma fertilização in vitro. Se você parar de fumar agora, levará um ano para os maus efeitos serem neutralizados.
Fique longe de quem fuma: o fumo passivo eleva em 36% o risco de problemas para engravidar nas pessoas expostas mais de 6 horas por dia ao cigarro.
Visite o ginecologista anualmente: o checkup ajuda a diagnosticar enfermidades como miomas, endometriose e síndrome dos ovários policísticos. Algumas DSTs também são uma ameaça à fertilidade, caso da clamídia e da gonorreia. Daí vem outra recomendação: pratique sexo seguro.
Faça a dosagem de hormônios ligados ao funcionamento dos ovários: como o folículo-estimulante e o luteinizante. Analise também o seu perfil fértil, avaliando o hormônio antimulleriano, que dá uma ideia da reserva de óvulos, recomenda Maria Cecília Erthal, especialista em reprodução humana assistida e diretora-médica do Vida – Centro de Fertilidade da Rede D’Or, no Rio de Janeiro. Um simples exame de sangue aponta como está o hormônio.

Inimigos da fertilidade

Os principais problemas de quem tenta engravidar

Síndrome dos ovários policísticos (SOP): Um desequilíbrio hormonal altera o ciclo menstrual e a ovulação. O tratamento é à base de anticoncepcionais, fertilização in vitro e coito programado, além de controle de peso e exercícios físicos. A SOP está relacionada a resistência à insulina e síndrome metabólica.
Endometriose: O endométrio, camada que recobre a parede interna do útero, se instala em lugares como ovários e intestino. Dor na relação e cólicas são os sintomas. O tratamento inclui remédios e cirurgia para retirar o tecido inadequado.
Obstrução tubária: Inflamações e infecções podem interromper o caminho que leva ao útero. A principal causa são infecções por DSTs, como a clamídia. Há cirurgias para corrigir as obstruções.
Miomas: Trata-se de tumores benignos que crescem no útero. Estima-se que metade das mulheres manifeste o problema, especialmente a partir dos 40 anos. O tratamento inclui retirada do mioma ou embolização, que interrompe o aporte de sangue e mata o tumor de fome. Aumento da prolactina Alterações no hormônio que produz leite afetam a menstruação e os ovários. Há medicações para inibir a produção do hormônio.
Problemas nos ovários: Um dos mais comuns é a menopausa precoce. Nesses casos, indica-se a fertilização com óvulos doados.

Mãozinha da ciência

FIV: Trata-se da famosa fertilização in vitro, em que os óvulos são coletados do ovário (com ou sem estimulação hormonal) e fertilizados em laboratório com sêmen. Depois, o embrião é implantado no útero. Indicada para mulheres com lesões nas tubas e endometriose. As chances de gravidez variam de 30 a 60% por ciclo, dependendo sobretudo da idade da mulher. O custo passa dos 10 mil reais por tentativa.
ICSI: Sigla para injeção intracitoplasmática de espermatozoides, procedimento no qual um espermatozoide é injetado diretamente no óvulo. É indicada para homens com poucos espermatozoides. Os óvulos são aspirados, o sêmen é coletado e ocorre a fertilização em laboratório. Por fim, os embriões são transferidos para o útero.
Indução da ovulação: Como o nome diz, induz os ovários a produzir óvulos, e a fertilização ocorre por meio de um coito programado. Recomendada para mulheres com dificuldade de ovulação em virtude de distúrbios hormonais ou ovários policísticos. As chances de gravidez são de 10 a 20% por ciclo.
Inseminação intrauterina: É um tratamento simples que introduz o sêmen no útero com o auxílio de um cateter, no dia da ovulação. Indicado para casos de endometriose leve, problemas com o muco cervical, alterações seminais leves e infertilidade sem causa aparente. As chances de gravidez são de 14 a 18% por ciclo. Custa cerca de 3 mil reais por tentativa.
Congelamento de óvulos: A técnica vem se tornando um meio difundido de garantir óvulos jovens para uma gravidez tardia. Até dez anos atrás, esse procedimento era mais indicado para mulheres que passariam por tratamentos que comprometem a fertilidade, a exemplo da quimioterapia. Hoje, essa possibilidade está ao alcance de qualquer uma disposta a pagar entre 12 mil e 15 mil reais pela coleta e mais cerca de mil reais de manutenção anual.
O tratamento é oferecido nas clínicas de reprodução assistida e funciona assim: a paciente toma injeções de hormônios para estimular a produção durante aproximadamente 15 dias. Nesse período, ela vai ao médico com frequência e faz exames de sangue e de ultrassom para monitorar a ovulação. A coleta é realizada por meio de ultrassom transvaginal, em que são capturados cerca de dez óvulos, congelados imediatamente. Segundo especialistas, o ideal é que o procedimento seja feito antes dos 35 anos.
Na técnica utilizada até 2005, formavam-se cristais de gelo que destruíam os óvulos. Dessa forma, a taxa de sucesso na gestação era muito baixa: cerca de 3%. Hoje, usa-se um processo chamado vitrificação, que congela o material em segundos e previne o problema. Algumas estatísticas acusam 50% de sucesso na gravidez. Não se sabe exatamente por quanto tempo os óvulos podem ser armazenados. Há quem diga que até cinco anos. Mas há registros de bebês nascidos após sete anos de congelamento.
– Gabriela Cupani

×