Reprodução: Aborto espontâneo é relativamente comum e atinge 15 % das gestações

Publicado 1 de dezembro de 2010 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 01:13.

Apesar de ser relativamente comum, já que, segundo especialistas, ocorre em 15% das gestações, o aborto espontâneo é uma experiência delicada que pode abalar o lado emocional da mulher. Em alguns casos, ela pode desenvolver um certo receio em engravidar novamente ou então de contar para as pessoas sobre uma nova gravidez. Além disso, a situação pode desencadear alguns quadros depressivos.
O aborto espontâneo pode ter várias causas, sendo que a mais comum é embrionária, ou seja, alterações cromossômicas do embrião. Existe também o fator hormonal, uma ocorrência chamada Insuficiência de Corpo Lúteo, que é quando o feto não encontra progesterona e estrógeno suficientes para se instalar, diz o ginecologista, especialista em medicina reprodutiva e diretor do Fertility (Centro de Fertilização Assistida), Assumpto Iaconelli.
Segundo Iaconelli, esse problema ocorre com mais frequência até a 12ª semana de gestação. Quanto mais tardio, mais raro é o abortamento. Depois desse período, as causas geralmente são outras, como diabetes, hipertensão, enfim, alguma patologia mais ligada à gravidez do que ao embrião, explica. O especialista diz que esse tipo de aborto praticamente não traz riscos, pois não houve manipulação intrauterina, diferente daqueles que são provocados.

Superando o trauma

De acordo com a psicóloga Maria Cristina Capobianco, cada pessoa vai lidar com esse momento de forma diferente. As reações vão ser influenciadas pela história de vida e da estrutura familiar da mulher. O momento também vai influenciar muito. Se ela tem uma boa estrutura, se está feliz, se tem uma relação estável. São vários os fatores que determinam o comportamento da mulher diante do ocorrido, explica.
Para se defender, segundo a psicóloga, algumas pessoas negam completamente qualquer perda, como se nada tivesse acontecido. Aparentemente, parece que ela nem está sentindo nada, mas, muitas vezes, isso não é um bem-estar, mas somente uma defesa. Provavelmente, está sofrendo muito, diz. Para Maria, a reação mais natural é uma certa tristeza, mas isso depende muito também do período da gestação, pois quanto mais tempo, maior a ligação com o futuro bebê.
A especialista explica que é importante passar pelo luto e ficar um pouco deprimida, uma vez que na sociedade moderna, muitas vezes, os conflitos não são enfrentados. É interessante fazer terapia para ter consciência de todos os mecanismos do inconsciente. Caso contrário, a pessoa pode ter mais dificuldade para engravidar por medo de perder. O acompanhamento de um psicólogo é necessário para não causar mais estragos, afirma.

Sem culpa

Outro sentimento que é recorrente nos casos de aborto espontâneo é a culpa. Diferente dos outros tipos de perda, muitas vezes, a mulher sente-se culpada pelo ocorrido. O tema da culpa é muito comum e constante, independente do caso. É como se ela tivesse feito algo de negativo em algum momento e estivesse sendo castigada por isso, afirma o psicólogo Paulo Tessarioli. Nesse contexto, a perda é vista como uma condenação por ela.
Geralmente, esse assunto é trabalhado muito mal por todos os envolvidos e se transforma praticamente em um segredo. Torna-se um tema que não vem à tona e que não é discutido. Ninguém fala sobre o que aconteceu. Esse comportamento já reforça a sensação de culpa. Todos precisam de um preparo emocional para lidar com essa questão, diz Tessarioli.
Para enfrentar a situação, o indicado é um acompanhamento psicoterápico, pois, caso contrário, qualquer gravidez posterior pode ser um trauma. O aborto pode se tornar um fantasma na vida da pessoa. Uma mulher que passou por essa experiência pode colocar o assunto em uma caixa e jogar a chave fora, mas mais cedo ou mais tarde isso pode vir à tona e aparecer em situações do cotidiano, alerta.

Acompanhamento terapêutico

Assim, para o especialista, o primeiro passo é procurar ajuda. Depois, é necessário falar sobre o assunto. O aborto espontâneo não trabalhado pode ser condição para o surgimento de uma depressão. Ela pode ter um quadro depressivo antes, durante e depois da gravidez. Por isso, o luto é necessário para a superação da perda, até para aqueles que acontecem nas primeiras semanas de gestação, pois não deixam de ser a morte de um sonho, diz.
Depois do impacto emocional e de atingir a aceitação, a mulher pode engravidar novamente sem receios. O problema dessas experiências traumáticas é quando elas impactam a vida de tal forma que prejudicam o presente e inviabilizam o futuro. Essa é a medida para saber se algo precisa ser trabalhado emocionalmente. Quando você nota que algo não ficou no passado, é preciso olhar para a situação, constata.
– Camila Silveira

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