O Coso funciona como uma pequena banheira para uso doméstico onde o homem coloca os testículos a cada dois meses para impedir a movimentação dos gametas masculinos responsáveis pela reprodução, e consequentemente evitar que eles cheguem ao óvulo e o fertilizem. A ação é proporcionada por meio de um ultrassom.
“O princípio é muito interessante, ele faz com que a cauda do espermatozoide perca a mobilidade. É uma ideia antiga, testada com sucesso em animais, e que em tese pode funcionar em humanos”, diz Edson Borges, especialista em reprodução humana e diretor científico do Fertility Medical Group, em São Paulo.
O estudo por trás do Coso foi conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos e publicado na revista científica Reproductive Biology and Endocrinology. O experimento, feito com ratos, funcionou, mas os responsáveis destacaram que ainda são necessárias mais pesquisas para lançar a tecnologia para humanos.
Borges destaca, por exemplo, que não se sabe quanto as ondas de ultrassom conseguiriam diminuir a mobilidade dos espermatozoides, e se essa redução seria suficiente para evitar a fecundação.
A criadora do Coso espera que o prêmio do James Dyson Awards, de 2.000 euros na categoria nacional e 30.000 na categoria internacional — da qual é um dos finalistas — ajude a financiar testes clínicos para uma eventual confirmação da eficácia e aprovação do aparelho pelas agências reguladoras.
Desde a criação da pílula anticoncepcional na década de 1960, utilizada hoje por mais de 214 milhões de mulheres no mundo, cientistas buscam um método contraceptivo que funcione de forma parecida e possa ser direcionado aos homens. Porém, existem dois principais motivos que tornam esse procedimento um desafio para a medicina, explica Borges.
O primeiro tem a ver com a produção dos óvulos, e os masculinos, os espermatozoides. A mulher, mesmo antes de nascer, na 20ª semana de gestação, já produziu todos os óvulos que serão liberados durante a sua vida. Assim, o processo de ovulação é responsável apenas pela liberação de um desses gametas por mês.
Já os espermatozoides são produzidos pelo homem a cada 75 dias, e em quantidade suficiente para que, a cada ejaculação, sejam liberados em média de 25 milhões a 200 milhões de gametas.
“Existe uma variação muito grande da produção durante toda a vida do homem. Então, essa dinâmica de produção torna bastante difícil que um anticoncepcional atue, porque a cada 75 dias tem uma população nova dos gametas”, explica o especialista.
Além disso, uma segunda dificuldade é em relação aos principais hormônios responsáveis pelos ciclos reprodutivos: o estrogênio e a progesterona, no caso da mulher, e a testosterona, no caso do homem.
Na formulação da pílula anticoncepcional feminina, geralmente é feita uma combinação do estrogênio e da progesterona em dose baixa, mas suficiente para que o organismo da mulher entenda que não precisa mais produzi-los. Assim, não há mais a quantidade necessária para provocar a ovulação.
Na maioria dos casos, a ingestão diária dessas doses de hormônios não oferece grandes efeitos colaterais que causem riscos à saúde da mulher. Já para o homem, o mecanismo de ação da testosterona é bem mais amplo no corpo, e sua inibição oferece uma série de efeitos considerados mais graves, como perda de libido, mudanças de humor e disfunção erétil. Uma pílula que funcionaria com esse mecanismo para os homens, o DMAU, enfrenta dificuldades em avançar nos testes justamente por esses motivos, destaca Borges.
Porém, o especialista acrescenta que há outras pesquisas que buscam métodos diferentes de contracepção masculina. Um deles, na Índia, envolve a injeção de um polímero no canal deferente para bloquear a passagem dos gametas masculinos. O canal é como um tubo que leva os espermatozoides dos testículos para o epidídimo, onde são armazenados para posterior ejaculação.
O procedimento seria como uma vasectomia, que envolve o bloqueio permanente deste canal, só que reversível por meio da injeção de uma outra substância que dissolve o polímero e libera a passagem. Chamado de Risug, o método também é conhecido por Vasalgel e ainda está em testes.
O Risug é mais invasivo, mas tem apresentado uma alta taxa de eficácia nos testes sem apresentar grandes efeitos colaterais.