Busca por bancos de sêmen triplica em dez anos

Publicado 25 de fevereiro de 2012 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 01:09.

O desequilíbrio entre a oferta de sêmen e a procura pelo material nos bancos de esperma da cidade pode ameaçar o sonho de ver a família crescer no caso de gente que depende da técnica para gerar um bebê. Se a busca por gametas de homens desconhecidos triplicou nos últimos dez anos, encontrar doadores férteis o bastante para participar de uma inseminação ficou difícil.
O panorama dos bancos de esperma da capital, um recurso que possibilita à mulher a chance de se tornar mãe mesmo sem ter um companheiro fértil, foi traçado pelas três principais unidades de São Paulo, as mais importantes do País, a pedido do Jornal da Tarde. Há dez anos o número de solicitações por mês era de 40 amostras de sêmen para fertilização assistida. Hoje, enviamos, mensalmente, em torno de 120 para todo o Brasil, afirma Vera Beatriz Fehér Brand, diretora do Pro-seed. A procura é semelhante no Criolab, da Clínica Fertility de Fertilização, e no banco da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) – o único na esfera pública.
Casais heterossexuais ainda constituem o principal público dos bancos de sêmen e representam cerca de 70% dos pedidos mensais. A procura de bancos pelos casais heterossexuais é motivada pela alteração seminal irreversível, ou seja, quando o homem é totalmente infértil, explica Edson Borges Junior, especialista em reprodução humana assistida e diretor da Fertility.
Muitas vezes, além de lidarem com um doloroso diagnóstico de infertilidade, marido e mulher ainda têm de passar por dilemas emocionais que podem colocar a relação em crise. Esse é um dos conflitos principais da novela Fina Estampa, da TV Globo, em que a personagem Esther (Júlia Lemmertz) acabou se divorciando de Paulo (Dan Stulbach), inconformado com a ideia de que sua mulher receberia o sêmen de um desconhecido. Na vida real, a história se repete.
Lindiana Ribeiro Boaventura, de 49 anos, também enfrentou o fim de um casamento para dar à luz Leon, hoje com 6 anos. Casei sabendo que meu ex-marido não queria ter filhos, mas achei que poderia fazê-lo mudar de ideia, conta.
Atualmente, mulheres que optam por uma gestação independente são responsáveis por 25% dos pedidos mensais feitos aos bancos de sêmen. Essa taxa, em 2002, não chegava a 15%. Muitas têm uma história parecida com a de Lindiana, que se casou tarde, aos 39 anos.
São mulheres que priorizaram os estudos, o trabalho, e decidiram ter filhos mais tarde. A falta de parceiros não irá impedi-las, observa Caio Parente Barbosa, professor responsável pela área de Genética e Reprodução Humana da FMABC. Ele ressalta que o movimento nos bancos de sêmen reflete também uma importante mudança comportamental que vem ocorrendo nos grandes centros. Observamos os casais de mulheres montando uma família, completa.
Ainda que casais heterossexuais sejam os principais clientes dos bancos, é entre o público gay e as mulheres sem companheiros que a demanda pelo serviço mais aumenta. Casais de homossexuais, que correspondem hoje a 5% dos pedidos nos bancos, nem sequer eram contabilizados há dez anos pelas unidades. As namoradas Gyslaynne Palmerino, de 24 anos, e Suzana Adachi, de 35 anos, por exemplo, se preparam para entrar nessa estatística. Já temos até as roupinhas, anima-se Suzana.
Foi apenas em 2011 que uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) estendeu o direito à reprodução assistida aos casais homossexuais. Presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Adelino Amaral Silva diz que, mesmo entre as clientes que se apresentam como ‘mulheres independentes’, há uma parcela de homossexuais não declaradas. Isso torna a participação desse grupo ainda mais expressiva.
– Felipe Oda

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