Como a fertilidade entra na discussão do câncer infanto-juvenil?

Publicado 6 de agosto de 2015 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 00:53.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), em 2012 foram registrados mais de 11,5 mil novos casos de câncer infanto-juvenil no Brasil. A proliferação descontrolada de células anormais pode ocorrer em qualquer parte do organismo, mas, nesse caso, os tumores mais frequentes costumam ser a leucemia (que afeta os glóbulos brancos), os linfomas (que comprometem o sistema linfático) e os tumores do sistema nervoso central. Menos comuns, também os neuroblastomas (sistema nervoso periférico), o retinoblastoma (olhos), os sarcomas e osterossarcomas (partes moles e ósseas, respectivamente), o tumor de Wilms (renal) e o tumor germinativo (de células que dão origem a ovários e testículos) também costumam comprometer a saúde de crianças e adolescentes entre zero e dezenove anos. Esse tipo de informação assusta, mas é importante dizer que em média 70% dos pacientes são curados quando diagnosticados e tratados logo no início. Por isso, a fertilidade está entrando cada vez mais na discussão do tratamento. Afinal, saber que teve sua fertilidade preservada aumenta a qualidade de vida depois que o paciente for curado.
Na opinião de Edson Borges Junior, especialista em Medicina Reprodutiva e diretor científico do Fertility Medical Group, a infertilidade é um dos efeitos colaterais de longo prazo mais angustiantes quando adolescentes ou adultos jovens estão em tratamento de câncer. Por isso é tão importante que os oncologistas estejam aptos a discutir com os pacientes a possibilidade de recorrer a técnicas de preservação da fertilidade antes de dar início de fato ao tratamento. “Tratamentos quimioterápicos e radioterápicos têm permitido taxas de sobrevivência em torno de 80% entre crianças e adolescentes. Depois de superar o câncer, os jovens se dão conta de que têm uma vida toda pela frente e se preocupam com a possibilidade de ter filhos. É natural, a essa altura, que o desejo principal seja levar uma vida mais próxima do que era antes da doença”, diz.
Segundo o especialista, a fertilidade masculina pode ser prejudicada em diferentes níveis, incluindo a remoção cirúrgica dos testículos ou ainda tendo a qualidade e a quantidade de espermatozoides afetada pela químio e radioterapia, por exemplo. Com relação às meninas, o tratamento pode comprometer a produção de óvulos e os níveis de hormônios, bem como o funcionamento de ovários e útero. Por isso, além de conversar detalhadamente com o oncologista, é fundamental que o paciente possa tirar todas as suas dúvidas e confiar a preservação de sua fertilidade – quando indicada – a um especialista em Medicina Reprodutiva. “O que é necessário ponderar é que não existem evidências que as técnicas de preservação da fertilidade possam comprometer o sucesso do tratamento do câncer, exceto quando a vida do paciente depende de uma cirurgia de emergência ou quando há riscos de se postergar a quimioterapia. Nesses casos, infelizmente, há pouco a fazer. Mas há outros muitos casos em que a fertilidade poderia ter sido preservada e não foi simplesmente porque isso não fazia parte da conversa de base entre o oncologista e o paciente – se transformando num problema de grandes proporções no futuro daquela pessoa que sobreviveu a um câncer mas teve a chance de ser pai ou mãe desperdiçada”.
Borges destaca algumas das técnicas mais utilizadas na preservação da fertilidade masculina. “A criopreservação de sêmen é a mais comum, embora seja possível apenas quando o paciente já entrou na puberdade. As amostras são coletadas e podem ser congeladas por muitos anos. Quando o paciente decidir ser pai, pode usar as amostras tanto num procedimento de inseminação intrauterina, como num tratamento de fertilização in vitro. Outro método utilizado em determinados casos é a proteção dos testículos contra radiação (blindagem gonadal). Já com relação às mulheres, a proteção do tecido germinativo através de hormônios pode ser uma alternativa para a preservação da fertilidade, por ser um tratamento simples e relativamente seguro, ideal para pacientes jovens ou quando não há tempo para o estímulo ovariano antes do tratamento do câncer. O nascimento de bebês saudáveis após o transplante de tecido germinativo descongelado tem aumentado a esperança de jovens pacientes com câncer, mas ainda há muita pesquisa a ser feita. Entretanto, o método mais seguro para evitar a infertilidade como efeito colateral nesses casos é a criopreservação de gametas ou embriões. Esse é o método com maior chance de sucesso para as mulheres que serão submetidas a um tratamento de câncer. Estudos avançados incluem o congelamento de tecido ovariano – que seria removido cirurgicamente antes do tratamento da doença de base, congelado e mais adiante reimplantado. Mas ainda precisamos de mais evidências para recorrer a essa técnica com segurança”.
Fonte: Dr. Edson Borges Junior, especialista em Medicina Reprodutiva e diretor científico do Fertility Medical Group

×