Por que superatletas podem enfrentar problemas para engravidar?

Publicado 17 de novembro de 2015 por Equipe Fertility Medical Group. Atualizado 00:50.

A rotina de uma atleta olímpica não é fácil. Com exceção das oito horas diárias de sono – imprescindíveis para a recuperação física e emocional – é muito comum passar outras oito horas por dia se exercitando – entre treinos e condicionamento físico. O que muitas mulheres desconhecem é a repercussão que os esportes extenuantes podem gerar na saúde reprodutiva. “Embora o sedentarismo seja um problema de grandes proporções, a prática de exercícios intensos pode dificultar uma gravidez – exigindo, inclusive, ajuda médica especializada para ter um bebê. Mulheres com peso normal e que se exercitam demais, principalmente em modalidades como corrida, ginástica, ciclismo e natação, são as que mais se ressentem do problema. Sendo assim, é muito importante intercalar um tempo de recuperação para o corpo e a mente”, diz a médica Suely Resende, especialista em Medicina Reprodutiva e diretora do Fertility Medical Group de Campo Grande.
Nos últimos 30 anos, a participação feminina nos esportes cresceu consideravelmente. Nas Olimpíadas de Londres, em 2012, 44% de todos os atletas eram mulheres. A participação feminina nos jogos universitários também vem crescendo no mundo todo, inclusive no Brasil. “A mulher atleta ainda sofre muito com a pressão vinda dos técnicos e patrocinadores, isso sem contar a própria cobrança por melhores resultados. O estresse físico e mental dessa situação tem repercussões importantes sobre o sistema endócrino feminino. Meninas que competem antes mesmo de atingir a puberdade acabam por retardá-la, desorganizando o eixo hormonal que ainda está imaturo. Isso é muito comum entre bailarinas, ginastas, nadadoras e tenistas – que podem retardar a primeira menstruação em quatro anos”, diz a médica.
Nas atletas, o exercício atua como modulador da reprodução humana e a disfunção menstrual é muito comum. “Os problemas mais recorrentes são produção deficiente de progesterona (fase lútea), oligomenorreia (menstruações escassas), amenorreia (interrupção da menstruação) e atraso puberal. É válido considerar, também, outros problemas que podem agravar o quadro da paciente, como baixo peso e teor de gordura corporal, além de estados hipoestrogênicos – que podem resultar em perda prematura de massa óssea”, diz a especialista.
De acordo com Suely Resende, entre 30% e 50% das bailarinas profissionais não menstruam – o que ocorre também com 50% das corredoras profissionais, com 25% das corredoras amadoras e com 12% das nadadoras e ciclistas. “Além do ritmo dos exercícios, outras doenças femininas têm mais chances de ocorrer em função do aumento de umidade e calor na região íntima. É o caso da candidíase, da presença de fungos e bactérias na vagina. Quando não tratada corretamente, sintomas como coceira, ardência e irritação local acabam limitando as relações sexuais e, consequentemente, dificultando a gravidez”.
Quando o assunto é fertilidade feminina, outro componente bastante impactante é o estado emocional da mulher. Tanto a ansiedade pela competição, quanto quadros de depressão desencadeados por uma derrota, ou por um eventual afastamento da atleta, podem gerar um desequilíbrio hormonal grave e, inclusive, reduzir o desejo sexual a quase nada. Quando isso acontece, é fundamental o envolvimento de todos que convivem com a atleta (familiares, amigos, técnico, médicos etc.) para que ela restabeleça sua saúde mental e física, bem como sua fertilidade.
“Atletas com insuficiência lútea devem repor progesterona, diminuir o ritmo de treinos entre 10% e 20%, ganhar peso com dietas acima de 2500 calorias (porque geralmente estão abaixo do peso normal) e procurar baixar o nível de estresse. Só assim sua menstruação pode retornar espontaneamente, favorecendo uma gravidez. Se isso não for suficiente para restabelecer a ovulação, é indicado fazer uso de medicamentos indutores da ovulação para ter chances reais de gravidez”, diz a especialista. “Como principalmente em períodos de competição nem sempre é possível diminuir a carga de treinamentos, atletas que são vítimas de desordem alimentar continuam muito resistentes a ganhar peso. Os ajustes nutricionais podem ser insuficientes para restaurar o ciclo menstrual. Nesses casos, também é necessário fazer um tratamento de reposição hormonal para evitar que ocorra a perda de massa óssea precocemente”.
Fonte: Dra. Suely Resende, médica ginecologista com especialidade em Medicina Reprodutiva, diretora da unidade de Campo Grande do Fertility Medical Group

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