A Reprodução Assistida e as novas formas de família


Ao longo das últimas décadas, o conceito global de família tem se tornado plural. Entre as diversas formas familiares de pais LGBTQIAP+, aquelas formadas por pais homoafetivos provavelmente são os mais comuns que buscam assistência na medicina reprodutiva. Atualmente existem variadas técnicas de reprodução assistida, algumas envolvendo um terceiro no processo, como por exemplo: doação e recepção de óvulos ou sêmen, e útero de substituição.

Entre a decisão de ser pais e o resultado de gravidez é natural sofrer ansiedade e acumular dúvidas e incertezas, sendo pertinente o cuidado da saúde psicológica e fundamental estar preparado para preservar o da criança também.

Um estudo realizado no Reino Unido, pesquisou 223 famílias e avaliou o estado psicológico de seus filhos aos um, dois, três, sete, 10 e 14 anos de idade, dentre estas famílias, 51 formadas a partir de doação de óvulos, 50 de doação de sêmen, 42 de útero de substituição e 80 por meio de concepção não assistida.

 

Os resultados demostraram que famílias geradas a partir de reprodução assistida envolvendo terceiros apresentam um funcionamento similar às famílias formadas por concepção natural.

A preocupação de que a reprodução assistida envolvendo terceiros poderia afetar negativamente os pais e o ajustamento das crianças vêm, em parte, de pesquisas que mostram uma maior probabilidade de problemas psicológicos na infância em famílias adotivas em que as crianças também não têm um vínculo biológico com um ou ambos os pais. No entanto, os problemas vivenciados por filhos adotivos muitas vezes possuem origem em históricos anteriores com desfechos negativos e complexos tornando o processo de transição em um novo contexto familiar de difícil aceitação pela criança. Em contrapartida, as crianças nascidas por reprodução assistida são criadas desde o nascimento por pais que as desejaram. Nestes casos, o parentesco biológico parece ser o menos importante para o bem-estar de crianças concebidas por reprodução assistida por terceiros diante dos relacionamentos calorosos e receptivos entre pais e filhos.

Conversar com as crianças sobre suas origens sem atrasar a revelação para além dos anos pré-escolares também contribuem com resultados positivos para o bem-estar e as relações familiares dos adolescentes.

Estudos focados em casais homoafetivos mostraram que mães que se assumiram diante de sua orientação sexual são tão propensas a terem boa saúde mental e relacionamentos positivos com seus filhos quanto mães heterossexuais, e que seus filhos não são mais propensos a apresentar problemas emocionais e comportamentais, como dificuldades e baixo desempenho na escola ou comportamento de gênero atípico do que crianças de pais heterossexuais.

Nas últimas duas décadas, estudos em famílias formadas por casais homoafetivos masculinos também foram realizados confirmando que a qualidade das relações familiares e a estigmatização que ocorre no mundo exterior é mais relevante para o ajustamento da criança do que o tipo de organização familiar.

Em relação ao útero de substituição, quando crianças de três a nove anos nascidas em famílias formadas por casais homoafetivos masculinos que utilizaram útero de substituição foram comparadas àquelas nascidas de famílias formadas por casais homoafetivos femininos que utilizaram sêmen de doador, observou-se que crianças de famílias com dois pais, usando útero de substituição tendem a ter menos problemas de internalização, como depressão e ansiedade, quando comparados àquelas nascidas em famílias com duas mães, sem a utilização de útero de substituição.

Não houve diferenças na incidência de problemas de externalização, como impulsividade, agressividade e problemas sociais, quando os grupos foram comparados. Os achados mostram que com exceção de questões que envolvem estigmatização de pais LGBTQIAP+ e seus efeitos em seus filhos, a prática de útero de substituição não traz efeitos adversos na saúde infantil.

Nos últimos anos, a maternidade e paternidade LGBTQIAP+ tem atraído a atenção da comunidade científica. A medida que isso acontece, o conhecimento e a conscientização sobre as famílias que divergem dos modelos tradicionais têm aumentado.

A pesquisa contemporânea destacou a saúde, a felicidade e o desenvolvimento positivo de crianças nascidas de famílias formadas por casais homoafetivos. De fato os resultados sugerem pouco ou nenhum impacto da orientação sexual dos pais no desenvolvimento das crianças.

 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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